Saber o que acontece para além da morte, o que acontece com a alma, se esta, afinal, se separa do corpo ou se tudo finda com o fim do “mundo das coisas físicas”, é algo que atormenta o pensamento humano.
Relativamente à morte, a Filosofia e a Teologia abordam a problemática da imortalidade da alma.
A morte faz o homem pensar na vida. O homem busca a liberdade, a alegria, a felicidade. Atualmente, são muitas as formas de busca destes valores ou, até mesmo, os valores universais estão cada vez mais, do meu ponto de vista, postos em causa relativa, devido à grande “transformação” da sociedade e do mundo, em geral.
Levamos uma vida a criar planos, projetos. Estudamos, procuramos emprego, compra de carro. Uns ca-sam, outros apenas “ficam” a ver se dá certo… compram casa, constroem família. Planeiam-se viagens, reuniões… busca-se o lazer desde a natureza aos psicadélicos espaços das “nigths”, para fugir à rotina da semana…
Contudo, a morte tem a desgraça de quebrar todos os projetos, porque, com ela, nada levamos deste mundo. Tudo fica para trás.
Alguns pensadores afirmam que a morte é última palavra da existência humana, sendo ela um final radi-cal. No entanto, esta tese não é compatível com os dados positivos da existência humana, visto que esta visão advém de quem se baseia numa antropologia meramente materialista, cuja existência humana se funde somente nas dimensões físicas e biológicas.
A pessoa não é apenas um reflexo de processos naturais. Afirmar a morte radical da existência da pessoa, leva-nos a pensar, então, no sentido da vida: Se a morte tem a última palavra, que sentido tem a vida? Para quê tudo isto, se tudo termina como o sopro numa vela que fumeia e desvanece? E a questão da salvação: Que sentido tem a salvação?
A morte não é a última palavra da existência humana. Mesmo com a morte física, há muita vida da exis-tência da pessoa. Os valores que defendeu, as causas que apoiou, a mensagem que transmitiu, o exemplo que deixou, a marca que permanece na vida de muitos, como memorial…
Este sábado, a Igreja católica celebrou a memória de São João de Brito, nascido em Lisboa, em 1647, chamado por Deus a missionar na Índia.
O martírio de São João de Brito:
«As causas da morte de João de Brito devem-se ao facto de um príncipe da casa real do Maravá querer conhecer a religião cristã, sendo-lhe enviado um catequista para tal. O príncipe, que entretanto adoe-ceu, não estava a conseguir melhorar com os cuidados médicos da corte, e resolveu invocar o Deus dos cristãos. Acompanhado pelo catequista, foi-lhe lido o Evangelho de São João. Esta situação terá sido a origem da sua cura.
O príncipe, sensibilizado pela forma como ficou curado, pediu para ser baptizado pelo Padre João de Brito. No entanto, havia o problema de ser polígamo e, de acordo com a lei da Igreja cristã, tal não era permitido. Informado, o príncipe aceitou ficar apenas com uma mulher, a primeira, não descurando as outras a quem prometeu que nada lhes faltaria, e foi baptizado. Porém, a sua mulher mais nova não gostou de ser relevada para segundo plano, e foi queixar-se ao rei do Maravá, seu tio, e aos sacerdotes. Estes, que não gostavam do Padre, pediram ao rei que chamasse o príncipe que, entretanto, se tinha convertido à religião cristã. Ao saber disto, o rei ficou furioso, mandou destruir tudo o que fosse dos cristãos, e enviou soldados para prender João de Brito, que se encontrava em Muni.
A 8 de Janeiro de 1693, João de Brito é preso, e espancado, juntamente com um jovem e um brâmane cristão. Seguidamente, atado a um cavalo, depois de percorrer um longo caminho a pé, e de ser insulta-do pelo povo, chegam à capital a 11 de Janeiro e são colocados numa prisão apenas alimentados com uma pequena refeição de leite por dia. O príncipe tentou interceder a favor de João de Brito, mas não o conseguiu. É levado para Oriur, onde chegou no dia 31 de Janeiro. A 4 de Fevereiro, o rei manda exe-cutá-lo, por decapitação e, posteriormente, desmembrado. Depois de saberem da notícia da sua morte, os Padres dirigiram-se para o local da sua execução para recolher o restava do seu corpo e demais objectos pessoais, e mesmo a acha com que foi decapitado. Esta foi enviada para Portugal e entregue ao rei D. Pedro II. A notícia do martírio foi recebida como uma “boa-nova” dado tratar-se de alguém con-siderado “santo”. Após a morte de João de Brito, o local onde foi executado passou a ser um lugar de peregrinação. A notícia da sua morte fez aumentar o número daqueles que queriam aderir à sua religião na região de Madurai.»1
Trezentos e vinte e quatro anos depois do seu derradeiro testemunho de amor a Cristo e à causa da Igreja - evangelização - a sua vida continua.
Os santos mártires inspiram-nos à coragem e à liberdade de amar a Deus, acima de todas as coisas. O amor eterno de Deus é a vida do mundo, no qual fomos chamados a viver e, permanecidos neste amor, jamais morreremos. A nossa páscoa é uma outra forma de vida que ainda não nos foi revelada, mas é vida suficiente para afirmar que a morte não tem a última palavra na existência humana.
Seminarista Jorge Sousa
Sem comentários:
Enviar um comentário