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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

22 de OUTUBRO DE 2014: SÃO JOÃO PAULO II, DROGAS E AÇORIANIDADE.


    É a primeira vez que exponho nas redes sociais esta preocupação crescente desde alguns meses a esta parte. Em parte, informado pelo testemunho de pessoas que vivem na Terceira e que me vão contando o caso de mais um jovem que se meteu no mundo da droga; em parte, confirmado pelos jornais regionais que vão trazendo notícias alarmantes sobre a toxicodependência nos Açores; mas, sobretudo, INDIGNADO, como cristão, pelo ainda-não-posicionamento pastoral proporcional à dimensão do problema por parte da Igreja Açoriana sobre este tema tão grave para a sociedade açoriana que a Igreja dos Açores diz querer conhecer.

    Desde já, alerto que não me move qualquer tipo de preconceito para com as pessoas toxicodependentes: não sou ninguém para as julgar. Não conheço as suas dificuldades concretas, que podem ser causa do consumo de droga, ou as suas histórias pessoais, que muitas vezes as podem ter conduzido até um aparente beco sem saída, chamado dependência.Os toxicodependentes MERECEM a ajuda de todos nós, mas não porque sejam coitadinhos (porque não o são)! Os toxicodependentes são pessoas, seres humanos dotados de uma dignidade ontológica inalienável. Mas, e sobretudo, para nós, crentes cristãos, são nossos irmãos e nosso próximo, são templo do Espírito Santo, rosto e corpo no qual Jesus continua a sua paixão.

    Hoje, é a primeira vez que se celebra a memória de São João Paulo II. Se este homem pode ser chamado "Magno" (Grande) por muitos motivos, o motivo pelo qual desempenhou uma missão ímpar na vida eclesial foi a sua dedicação à juventude. As JMJ's são apenas um sinal visível de massas da dedicação, constante e total, que preencheu a vida do papa polaco. Pois, é nesse mesmo dia que, ao ler os titulares dos jornais regionais, encontro-me com a notícia do julgamento de três jovens que introduziam droga em duas escolas micalenses (http://jornais.sapo.pt/local/acores/6766). Isto, mais uma vez, fez-me pensar em outras notícias que já tinha lido sobre a matéria. A que mais me chocou foi a de que os "Jovens açorianos são dos que mais consomem droga em todo o país", segundo estudo de 2012 e actualizado em março deste ano. (http://www.correiodosacores.info/…/5737-jovens-acorianos-sa…)

    A minha pergunta é: como é possível não ver o óbvio? Como pode a Igreja continuar muda diante de uma acontecimento desta gravidade? Como é possível não nos doer o coração quando conhecemos alguns desses jovens que foram apanhados na teia?
E não me venham falar da prevenção e da informação! Todos os jovens da minha vida, mais velhos ou mais novos, no nosso tempo escolar, somos "bombardeados" por campanhas de sensibilização, projectos de A.P., cartazes, etc.... 
    O problema é um problema cultural! Um problema global, é certo...; mas com uns contornos muito regionais. Em poucos anos, a realidade cultural açoriana, ao mesmo tempo que se tem transformado em termos de acesso às tecnologias da informação e comunicação e a nível de mobilidade, não tem assistido a um proporcional debate acerca da transformação da identidade açoriana, que tem a sua raiz mais profunda na açorianidade, intuída por Vitorino Nemésio. Não se tem discutido quem somos, de onde vimos e para onde vamos, como povo com uma cultura e identidade própria. Não se tem constituído um intercâmbio entre profecia da juventude e sabedoria dos anciãos que continue a forjar a nossa açorianidade. Aliada a isto, a crise económica veio gerar uma sensação de desencanto, de uma necessidade de fuga (não necessariamente geográfica) dos problemas, de desilusão de uma realidade que, afinal, não dá de si tudo o que promete. 
    Se bem que este é um debate cultural, a Igreja deve estar aí, a oferecer a proposta de vida plena e verdadeira que recebeu na manhã daquele Páscoa: Jesus Cristo ressuscitado. Mais do que nunca, é preciso fazer dialogar a espiritualidade (experiência cristã de Deus) com a açorianidade e o actual mundo de significados, expectativas e projectos juvenis. Temos tanto para dar... e os nossos jovens precisam tanto de receber isto.

    A primeira vez que reflexionei sobre isto em público, foi na meditação de um terço do Espírito Santo, no 4º mistério doloroso. Jesus, a caminho do Calvário, diz às mulheres que por Ele choram que não chorem por Ele, mas sim pelos seus filhos, porque, questionava ele, se fizeram isso ao lenho verde,o que não farão ao seco. E, naquele momento, disse que nós devíamos chorar o calvário dos jovens açorianos que estão no mundo da toxicodependência.
Frei. Renato Pereira

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