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domingo, 25 de setembro de 2016

Pobres «são a mais santa das portas santas»: José Tolentino Mendonça no encontro de Assis


    Quando penso no contributo que a experiência religiosa dá no presente e poderá dar, num futuro próximo, à cultura, ao tempo e ao modo de existência humana, penso no imenso património espiritual que nasce da amizade com os pobres. Os pobres sentam-se muitas vezes às portas das igrejas. Na realidade, eles não estão sentados à frente da porta, são eles a porta para chegar a Deus, este Deus que nos pergunta sempre: «Onde está o teu irmão?» (Génesis 4, 9). Os pobres mostram-nos Deus. Eles são testemunhas e mestres da fé na sua forma mais concreta, porque são os últimos, os pequenos, os marginalizados, os esquecidos, as vítimas, aqueles que sem voz gritam pela justiça, os esfomeados, os que podem só contar com Deus. As religiões nunca podem esquecer a centralidade dos pobres na sua missão. Os pobres são a porta santa. São a mais santa das portas santas. 

    Os pobres ensinam-nos muito sobre a vida espiritual. Ensinam-nos a escuta. A escuta não é apenas aprender o discurso verbal. Antes de tudo é atitude, inclinar-se para o outro, é dedicar-lhe a nossa atenção, é disponibilidade para acolher aquilo que foi dito e não dito. Escutar significa oferecer um ombro onde o outro possa apoiar a mão, para rapidamente se levantar. Poder ser escutado relança-nos no caminho. Um dos textos que mais impressionam sobre o valor da escuta é o conto "Angústia", de Tchekhov. Descreve a história de um cocheiro, Iona, que perdeu um filho e não encontra, entre os humanos, nenhum disposto a confortá-lo. «Sente a necessidade de contar como adoeceu o filho, os seus sofrimentos, o que disse antes de morrer e como morreu (...). Sente a necessidade de descrever o funeral, de contar quando foi ao hospital procurar as roupas do defunto. Na vila ficou a filha, Aníssia (...). Quer falar também dela (...)» mas ninguém escuta. O cocheiro dirige-se então ao seu cavalo, e enquanto lhe dá de comer começa a expor-lhe, num longo e dolente monólogo, tudo aquilo que viveu. As últimas palavras do conto de Tchekhov são estas: «O cavalo continuou a mastigar, enquanto parecia que escutava, porque soprava na mão do seu dono... Então Iona, o cocheiro, animou-se e contou-lhe tudo». 

    Os pobres ensinam-nos a força terapêutica da presença: um simples toque ajuda a dissipar as perturbações, tranquiliza um espírito agitado e transmite um conforto que nenhuma máquina ou fármaco pode dar. Jesus, por exemplo, vai tocar o intocável. Estende a mão àqueles que é proibido tocar. Um homem doente de lepra quebra o cordão sanitário e aproxima-se de Jesus para dizer: «Senhor, se quiseres, podes curar-me» (Lucas 5, 12). Naquele tempo os leprosos tinham a obrigação de viver longe das povoações, separados da família, num afastamento que servia para evitar o contágio. Pois bem, Jesus não se limita às palavras - «Eu quero» -, mas estende a mão e toca-o. Prefere correr o risco do contágio, no desejo de tocar a ferida do outro; querendo partilhar, como só através do toque se partilha, aquele sofrimento; ajudando a vencer o ostracismo, interiorizado com a separação forçada. O que é que cura o homem? O que é que cura a mulher que, noutro ponto do Evangelho, segue Jesus e o toca (cf. Lucas 8, 43-48)? A curá-los está certamente o poder de Deus que se manifesta em Jesus, mas num processo onde a forma não é de todo indiferente. Cura-os o facto de se saberem tocados, e tocados no sentido de encontrados, assumidos, aceites, reconhecidos, resgatados, abraçados. A mística não é um estado de impermeabilidade, mas exatamente o seu contrário: uma radical porosidade sobre a vida e sobre os outros. Uma pele, uma presença, um batimento do coração, um encontro, uma alegria partilhada com os pobres.  

    Os pobres ensinam-nos o acolhimento de Deus. Recordo sempre esta história: era uma vez um homem devoto que, na sua oração, pede a Deus uma coisa desmesurada, mas Deus imediatamente satisfez. O homem pede que Deus fosse visitá-lo na sua casa. Tendo obtido o sim de Deus, o homem iniciou grandes preparativos (limpeza, reparações, ornamentos...) para receber o seu Hóspede. No dia estabelecido para a visita, o homem coloca-se à porta de casa, à espera de Deus. De manhã cedo vem um rapazinho que procurou, da janela, roubar-lhe uma maçã sobre a mesa, mas ele impede-o, repreendendo-o duramente. Ao meio dia um mendigo vem perturbá-lo com os seus pedidos, mas ele explicou-lhe que estava à espera de uma visita ilustre, que viesse noutro dia. À tarde um viajante exausto pede-lhe hospitalidade, que ele lhe negou, porque esperava Deus. Só que Deus não vem. Por isso, quando cai a noite, também o homem cai num grande desânimo. E durante a sua oração protestou contra Deus, que não tinha mantido a sua palavra. 

Mas Deus responde-lhe: «Por três vezes procurei entrar em tua casa, mas tu próprio mo impediste».


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Festas das Lajes 2016 - PROGRAMA


"A todos os Lajenses, emigrantes e a todos os que por estes dias nos visitam sejam bem-vindos às grandes  Festas das Lajes 2016. Sintam o nosso abraço e aperto de mão, reencontrem e construam amizades, saboreiem a nossa massa sovada, partilhem da nossa alegria e desfrutem da última festa de Verão da Ilha Terceira." 







 Esperamos pela vossa visita 
 nestes dias de festa!

domingo, 11 de setembro de 2016

NOSSA SENHORA DOS MILAGRES, ou Nossa Senhora dos Últimos-recursos-do-Amor-de-Deus


    Quem viaja dos lados do Ramo Grande, principalmente a pé, sente que a Igreja da Serreta se eleva num alto que quase toca o céu. O último esforço feito pelos peregrinos para tocar esse quase-céu tem, no coração daqueles que puseram os pés ao caminho, um rosto e um nome: Maria, Nossa Senhora dos Milagres. Muitos por desporto, muitos por milagres; muitos por devoção, muitos por costumes; muitos são os que rumam à Serreta nestes dias. Tudo pela Senhora dos Milagres. Tudo porque sentiram, na vida de cada dia, principalmente quando os dias desta vida são tecidos de dor, aflição, tribulação, perigo, a presença materna e carinhosa de Maria; sentiram o milagre.
    Mas o que é um milagre? São João da Cruz, carmelita descalço do século XVI, numa das suas magistrais obras, Subida do Monte Carmelo, escreve: “Não é próprio de Deus que se façam milagres. Quando os faz, a mais não poder os faz.” (3S 31,9). Ou seja, os milagres são como o último recurso de Deus: quando nenhum dos outros meios resultou, o último meio que resta a Deus é o milagre.
    Isto dá muito que pensar. Muitas vezes, achamos que os milagres nos acontecem são a maior prova da presença de Deus na nossa vida. Se calhar, andamos cegos e surdos de coração. Se Deus, pelas mãos de Maria, faz-nos um milagre, é porque, se calhar, nós não soubemos compreender ou acolher todos os outros meios normais que Ele tem para dizer-nos que nos ama.
    Não é cada sol que nasce no horizonte um sinal da presença de Deus, que nos dá uma nova oportunidade de ser felizes? Não são as pequenas surpresas do dia-a-dia, as pequenas coisas belas que nos fazem sorrir, um pequeno Evangelho de Deus? Não é cada pessoa da nossa família, com os seus problemas e limitações, um presente de Deus para que possamos percorrer o caminho da vida acompanhados? Não é a comunidade cristã a certeza de que é possível viver o amor no meio do nosso mundo? Não é a Palavra de Deus a resposta maior a todos os momentos da nossa vida? E não é o Sacramento da Eucaristia a certeza maior de que Ele está connosco todos os dias?
    Mas, muitas vezes, andamos surdos e cegos para ouvir e ver o Deus que nos procura, que anda à nossa procura como o pai que procura o filho que perdeu no meio de uma festa ou de um grande ajuntamento de gente. Deus procura-nos, quer estar connosco. Jesus é o rosto desse Deus que nos procura, que anda atrás de nós a ver se nos encontra. Melhor: Deus anda à procura de que O aceitemos na nossa vida, que façamos d’Ele a nossa felicidade, que vivamos com Ele e a partir d’Ele as coisas mais belas da nossa vida. Porque Deus está mais próximo de nós do que qualquer outra coisa ou pessoa; Deus está mais próximo de nós do que nós mesmos.
    Então, quando nenhum desses meios que Deus tem funciona, e quando Ele nos vê em situação de perigo, não tem outro remédio para continuar a chamar-nos do que fazer algo que notemos que foi feito por Ele. Ou seja, um milagre. E que melhor meio pode ter Ele do que conceder-nos que esse milagre aconteça por intercessão da Nossa Mãe do Céu, por meio daquela Mulher que nos encanta, que nos embala, que é para nós a certeza da ternura divina?
    Para todos os terceirenses, a festa de Nossa Senhora dos Milagres é um aviso importante: vê como Deus anda à tua procura! Se notaste na tua vida um milagre, fica a saber que esse foi o último recurso que Deus teve para te fazer “entrar-pelos-olhos-dentro” que está próximo de ti, que está “doido” para viver uma amizade contigo, que quer ser o n.º 1 da tua vida, que quer apenas fazer-te bem. Que Nossa Senhora dos Milagres nos abra os olhos, os ouvidos e o coração.

Renato Pereira  - F. da Ordem dos Carmelitas Descalços

Nossa Senhora dos Últimos-recursos-do-Amor-de-Deus (Milagres), rogai por nós!

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

VI Encontro de Grupo com Cristo - 26, 27 & 28 de Agosto de 2016


     No fim de semana de 26, 27 e 28 de Agosto realizou-se o VI Encontro de grupo com Cristo no Lar de Santa Maria Goretti. Este encontro teve como tema a expressão “(kʊi)dar” tendo como exemplo a Santa Teresa de Calcutá

    Esta expressão, cuja primeira parte (kʊi) deriva do Latim e significa “quem”, “o que”, “a qual”, “para quê” teve um grande ênfase no decorrer do nosso encontro, durante o qual falamos sobre como cuidar da nossa fé e da nossa vida enquanto exemplos de santidade na nossa comunidade. 

    Foi neste seguimento que falamos sobre “o que podemos kʊidar?”, “como podemos kʊidar?”, “porque devemos kʊidar?” e também “o que podemos dar?”, “como podemos dar?”, “a quem podemos dar?”, “porque damos?” fazendo várias ligações a partes das vidas de alguns Santos que nos servem de exemplo e que nos ajudam na nossa tentativa de sermos exemplo para os outros.

    Resta-nos agradecer a todos os elementos do nosso grupo pela sua disponibilidade e sacrifício para podermos tirar um bocadinho de tempo para nós, como grupo. Agradecer também a todos aqueles que não puderam ir mas que nos deram o seu apoio. Um agradecimento especial, às nossas famílias, pelos alimentos que nos proporcionaram, ao Padre António Rocha e ao Seminarista Nélson Pereira pelo tempo e testemunho que partilharam connosco e a todos os outros que de alguma forma contribuíram para este fim-de-semana.




















Queridos Jovens, escutai dentro de vós!
Cristo cuida do vosso coração.
Papa Francisco


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Santa Teresa de Calcutá


Senhor, quando eu tiver fome, dai-me alguém que necessite de comida. 
Quando tiver sede, dai-me alguém que precise de água.
Quando sentir frio, dai-me alguém que necessite de calor.
Quando tiver um aborrecimento, dai-me alguém que necessite de consolo.
Quando minha cruz parecer pesada, deixai-me compartilhar a cruz do outro.
Quando me achar pobre, ponde a meu lado alguém necessitado.
Quando não tiver tempo, dai-me alguém que precise de alguns dos meus minutos.
Quando sofrer humilhação, dai-me ocasião para elogiar alguém.
Quando estiver desanimada, dai-me alguém para lhe dar novo ânimo.
Quando sentir necessidade da compreensão dos outros, dai-me alguém que necessite da minha.
Quando sentir necessidade de que cuidem de mim, dai-me alguém que eu tenha de atender.
Quando pensar em mim mesma, voltai minha atenção para outra pessoa. 
Tornai-nos dignos, Senhor, de servir nossos irmãos que vivem e morrem pobres e com fome no mundo de hoje. Dai-lhes, através de nossas mãos, o pão de cada dia, e dai-lhes, graças ao nosso amor compassivo, a paz e a alegria.

"O que faço, é uma gota no meio de um oceano.
Mas sem ela, o oceano será menor."

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O que é a Vida?


    Numa tarde de Verão, toda a bicharada da floresta descansava. A um certo momento, o tentilhão levantou a cabeça e perguntou:
-O que é a vida?
Um rosa, que tinha estado em botão e agora se tinha aberto, respondeu:
-A vida é um desabrochar.
Uma borboleta, que andara todo o dia de flor em flor, respondeu:
-A vida é alegria e luz.
Uma formiga, arrastando para o formigueiro um peso dez vezes maior que ela, respondeu:
-A vida é trabalho duro.
Uma toupeira, deitando a cabeça fora da terra respondeu:
-A vida é uma luta na escuridão.
No azul do céu, uma águia voava livremente e lá de cima exclamou:
-A vida é voar cada vez mais alto.
Entretanto, fez-se noite. A escuridão cobriu todas as coisas. Finalmente, rompeu a aurora, que encheu a floresta de luz. A aurora respondeu:
-Assim como eu sou início de um novo dia, a vida é início da eternidade. Quem hoje amar, já tem em si a vida eterna.

O cristão acredita que a vida boa e bela consiste em seguir Jesus. Ele é a Vida.